Novidade 10 | Random Access Memories (2013) - Daft Punk

Ano: 2013
Gravadora: Columbia Records e Sony Music
Gênero: Eletro Music, Disco Music, House Music, Acid House, Jazz e Synthpop.
Obs: o álbum não está a venda.

Será que voltados à década de 1970?
Pista cheia de luzes, danças coreografadas, roupas extravagantes, músicas cheias de groove com vozes conduzidas pelo suingue. Essas são referências que permeiam o álbum que vou falar no post Novidade de hoje.
Até me surgiu a dúvida de qual categoria colocar esse álbum: Novidade, porque foi lançado em 2013; Nostalgia por causa das referências setentistas e oitentistas; ou ainda Épico, porque sem sombra de dúvida esse álbum vai fazer história. Essa é a impressão que temos ao ouvir "Random Access Memories" da dupla francesa Daft Punk: um dos melhores registros lançados em 2013 até agora e uma completa reformulação na carreira dos produtores.
Odiado por alguns que dizem ser um álbum repetitivo, sem graça, saudosista, comercial (odeio esse termo), cafona (acreditam que eu já ouvi isso), e aclamado por outros que o colocam no pedestal. Ainda há um terceiro grupo, no qual me incluo,  que ouvem o álbum completo para depois analisar e o considerar um marco na história da música por vários motivos.
Primeiramente para situar o leitor, vou falar um pouco sobre a carreira da dupla francesa e sua importância para o desenvolvimento da música eletrônica contemporânea.
Daft Punk é uma dupla de música eletrônica formada pelo Luso-Francês Guy-Manuel de Homem-Christo e pelo francês Thomas Bangalter. Eles alcançaram significativa popularidade na França no final dos anos 1990, no segmento musical de tendência house. Nos anos seguintes, consolidaram o sucesso combinando elementos de House com Synthpop. A dupla também é creditada pela produção de canções consideradas essenciais no panorama da French house.
Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo se conheceram em 1987 na Lycée Carnot, uma escola secundária de Paris. Os dois se tornaram bons amigos e depois gravaram algumas faixas demo com outros colegas da escola. Essa parceria inicial culminou na formação de um grupo à base de guitarra chamado Darlin', junto com Laurent Brancowitz, em 1992. Bangalter e Homem-Christo tocavam baixo e guitarra, respectivamente, enquanto Brancowitz era o baterista. O nome escolhido para o trio foi uma homenagem à canção "Darlin'" do The Beach Boys, a qual faziam cover juntamente com uma composição original. Stereolab lançou ambas as faixas em um EP multi-artista da Duophonic Records e convidou a banda para abrir shows no Reino Unido. Bangalter considerou que "O rock n' roll que fizemos foi bem mediano, eu acho. Foi tão breve, talvez seis meses, quatro músicas e dois shows e então acabou." Uma crítica negativa na Melody Maker posteriormente apelidou a música como "a bunch of daft punk". Ao invés de dispensarem a crítica, Bangalter e Homem-Christo acharam divertido. Homem-Christo declarou, "Lutamos tanto tempo para encontrar [o nome] Darlin', e isto aconteceu tão rápido". Pouco depois, Darlin se dissolveu e Brancowitz seguiu outras oportunidades com a banda Phoenix. Bangalter e Homem-Christo formaram Daft Punk e experimentaram máquinas de ritmos e sintetizadores.


Em 1993, Daft Punk frequentou uma rave na EuroDisney, onde encontraram Stuart Macmillan, da banda Slam, cofundador da gravadora Soma Quality Recordings. O demo dado à Macmillan na rave formou a base para o single de estreia de Daft Punk, "The New Wave", um lançamento limitado em 1994. O single também continha a versão final de "The New Wave", chamada "Alive", que seria apresentada no seu primeiro álbum.
Daft Punk retornou ao estúdio em maio de 1995 para gravar "Da Funk", que veio a se tornar seu primeiro single bem sucedido ainda no mesmo ano. Após o sucesso de "Da Funk", a dupla visou encontrar um empresário, eventualmente escolhendo Pedro Winter, que regularmente os promovia juntamente com outros artistas em suas boates Hype. A banda assinou com a Virgin Records em setembro de 1996, e fez um acordo através do qual eles licenciaram as suas faixas para a gravadora principal através da sua empresa de produção, Daft Trax.
"Da Funk" e "Alive" foram posteriormente incluídos no álbum de estréia do Daft Punk, "Homework", de 1997. A obra foi considerada como uma síntese inovadora de Techno, House Music, Acid House e estilos de Electro, e é amplamente reconhecido como um dos mais influentes álbuns de Dance Music dos anos de 1990. "Da Funk" também foi incluído na trilha sonora do filme The Saint.


Foi durante este período de mudança na Dance Music que a dupla se tornou amplamente bem sucedida. Eles combinaram os estilos musicais acima mencionados e elementos de Rave Music que agradavam a platéia. O single mais bem sucedido de "Homework" foi "Around the World".
Daft Punk também produziu uma série de videoclipes para Homework, dirigidos por Spike Jonze, Michel Gondry, Roman Coppola e Seb Janiak. A coleção de vídeos foi lançada em 1999 e intitulada D.A.F.T.: A Story About Dogs, Androids, Firemen and Tomatoes.


Em 1999 a dupla já se encontrava nas sessões para gravação do seu segundo trabalho, que havia sido iniciado um ano antes. O lançamento de "Discovery", em 2001, trouxe um estilo orientado ao Synthpop, mais suave e distinto, o que inicialmente chocou os fãs dos trabalhos anteriores em "Homework". A dupla afirma que "Discovery" foi concebido como uma tentativa de se reconectar com uma atitude divertida e mente aberta, associada com a fase de descoberta da infância, fazendo uso pesado de temas e samples do final dos anos 70 e início dos anos 80. "Discovery" alcançou a segunda posição no Reino Unido, com "One More Time" se tornando o hit principal e conseguindo um grande sucesso, quase atingindo o topo da UK Singles Chart. A canção é conhecida por ser muito auto-sintonizada e comprimida, e tanto ela quanto o álbum ajudaram a criar uma nova geração de fãs muito familiarizados com o segundo lançamento de Daft Punk. "Digital Love" e "Harder, Better, Faster, Stronger" também foram muito bem sucedidos nas paradas musicais no Reino Unido e nos Estados Unidos, e "Face to Face" atingiu a primeira posição em paradas musicais dos EUA, apesar de seu lançamento limitado. Um trecho de 45 minutos de uma performance do Daftendirektour, gravada em Birmingham, no Reino Unido, em 1997, também foi lançada em 2001, intitulado Alive 1997.
Em 2003 teve o lançamento do longa animado "Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem". A dupla produziu o filme, sob a supervisão de Leiji Matsumoto. O álbum Daft Club também foi lançado para promover o filme, apresentando uma coleção de remixes anteriormente disponibilizados através de um serviço de assinatura online de mesmo nome.





Começando em 13 de setembro e terminando em 9 de novembro de 2004, Daft Punk dedicou seis semanas para a criação do novo material e lançou o álbum "Human After All" em março de 2005 e as críticas foram variadas, principalmente citando sua natureza excessivamente repetitiva e a aparente gravação apressada. Os singles deste álbum são: "Robot Rock", "Technologic", "Human After All" e "The Prime Time of Your Life".





Um CD/DVD de antologia de Daft Punk, intitulado Musique Vol. 1 1993-2005, foi lançado em 4 de abril de 2006, nos Estados Unidos. Este contém novos videoclipes de "The Prime Time of Your Life" e "Robot Rock (Maximum Overdrive)". Daft Punk também lançou um álbum de remixes chamado "Human After All: Remixes".
Em 21 de maio de 2006, Daft Punk estreou seu primeiro filme dirigido "Daft Punk's Electroma" no Festival de Cannes.
Daft Punk lançou seu segundo trabalho ao vivo, intitulado "Alive 2007", em 19 de novembro de 2007. Este contém a performance da dupla em Paris, da sua turnê Alive 2007 e inclui um livro de 50 páginas de fotografias tiradas durante a turnê. A versão ao vivo de "Harder, Better, Faster, Stronger", do álbum Alive 2007, foi lançado como um single. Um videoclipe para a canção, dirigido por Olivier Gondry, apresenta filmagens gravadas por 250 espectadores da presença de Daft Punk no Brooklyn, no Keyspan Park, em Coney Island.
Após a turnê Alive 2007, Daft Punk se focou em outros projetos. Uma entrevista de 2008 com Pedro Winter ,revelou que a dupla retornou ao seu estúdio em Paris para trabalhar no novo material. Winter também deixou de ser empresário de Daft Punk para focar a atenção na sua gravadora, Ed Banger Records, e em seu trabalho como Busy P. Ele declarou mais tarde, em uma entrevista, que a dupla estava trabalhando com uma empresa administrativa não especificada em Los Angeles. Em 2008, Daft Punk ficou na 38ª posição em uma votação mundial oficial da DJ Magazine, após estrear na 71ª posição em 2007. Em 8 de fevereiro de 2009, Daft Punk ganhou dois Grammys com Alive 2007 e seu single "Harder, Better, Faster, Stronger".
Na San Diego Comic-Con de 2009, foi anunciado que a dupla compôs 24 faixas para o filme Tron: Legacy. A trilha de Daft Punk foi harmonizada e orquestrada por Joseph Trapanese. A banda colaborou com ele durante dois anos, da pré-produção até o acabamento da trilha. A trilha apresenta uma orquestra de 85 pessoas, e foi gravada no AIR Lyndhurst Studios, em Londres. Joseph Kosinski, diretor de Tron: Legacy, se referiu à trilha como uma mistura de elementos eletrônicos e orquestrais. Daft Punk também fez uma participação especial como programas de disc jockey, vestindo sua marca registrada, o disfarce de robô, dentro do mundo virtual do filme. A coadjuvante de Tron: Legacy, Olivia Wilde, afirmou que a dupla pode estar envolvida com futuros eventos promocionais relacionado ao filme. Um teaser trailer mostra Daft Punk e sua faixa "Derezzed" de Tron: Legacy. O álbum da trilha sonora do filme foi lançado em 6 de dezembro de 2010. Uma edição de luxo com 2 discos do álbum também foi lançada, incluindo um pôster da dupla no filme. Faixas bônus adicionais também estão disponíveis através de vários vendedores online. Um videoclipe oficial de "Derezzed" também estreou na MTV Networks no mesmo dia em que o álbum foi lançado.


Em 2010, Daft Punk foi admitido na Ordre des Arts et des Lettres, uma condecoração da França. Bangalter e Homem-Christo foram individualmente condecorados na classe Chevalier (cavaleiro).
A Soma Records lançou uma faixa de Daft Punk não publicada anteriormente, intitulada "Drive", que foi criada durante a mesma época em que a dupla estava com a Soma Records, e gravando "Rollin' and Scratchin'" e "Da Funk". A faixa foi incluída numa compilação multi-artista de 20° aniversário da Soma. Em outubro de 2011, Daft Punk alcançou a 28° posição na enquete mundial oficial da DJ Magazine, depois de aparecer na 44° posição no ano anterior.
Em 19 de janeiro de 2012, Daft Punk ficou em segundo lugar na Mixmag's Greatest Dance Acts of All Time, com The Prodigy ficando em primeiro lugar por apenas alguns pontos de diferença.
Após uma série de rumores, em maio de 2013 , a dupla lançou seu quarto álbum "Random Accsses Memories". O álbum marcou o término do contrato com a EMI para assinar com a Columbia Records.
Não é novidade para ninguém que a dupla de Eletro Music Daft Punk é referência mundial em vários gêneros musicais. Não só pelo portfólio, mas pela paixão em que esses franceses têm em "fazer música". Obviamente, para Guy-Manuel e Thomas música é coisa séria. Seus depoimentos sempre foram fortes e muito críticos quanto a responsabilidade de se fazer música eletrônica, e em um cenário musical em que o eletrônico está na "moda", ninguém menos que Daft Punk poderia dar as caras para mostrar um trabalho bem feito e muito esperado.
Pouquíssimas horas após vazar, minutos, na realidade, os vereditos sobre “Random Access Memories” começaram a aparecer na rede. Em questão de alguns posts no FB e no Twitter a discussão estava polarizada entre os que amaram antes de escutar, chamados de hypes, e os que odiaram e já desgostaram antes de ouvir, os haters.
Entre os dois extremos ficou o grupo, o qual me incluo, não apenas o bom senso, mas também o prazer de simplesmente se ouvir o disco inteiro, analisando o que ele representa conceitualmente.
O Daft Punk, no início de Random Access Memories, faz a proposição pretensiosa de “dar vida novamente à música”, sendo que o álbum já se mostra como revivalista ao colocar a importante palavra “memória” em seu título. A memória na música é totalmente presente e algumas faixas, ou estilos, acumulam uma teia interessante de memórias. O Daft Punk nos lembra  do nosso “dever de memória”, da necessidade de revisitar a obra de artistas que poderiam parar no limbo do esquecimento. Eles fazem isso de uma forma extremamente competente, misturando voz, música Disco e uma miscelânea de instrumentos e ritmos
Assim para não ficar nesse "vazio" dos extremos, vamos analisar cuidadosamente o álbum, faixa por faixa.
A faixa de abertura "Give Live Back To Music (Feat. Nile Rodgers)" soa menos eletrônica que os outros álbuns da dupla, o "Randon Access Memories" veio com apenas um objetivo: o de "humanizar" a música eletrônica, e a melhor forma de se obter este resultado é deixando o gênero mais "crú" possível, no caso, trazer uma sonoridade idêntica aos dos anos 1980. A parceria de Nile Rodgers na faixa que abre o disco é mais que bem vinda, já que todo um clima de discoteca daquela época foi perfeitamente criado. Guitarra, baixo, bateria e alguns sintetizadores compõem a música. Se não fosse ela que abrisse o disco não passaria a mensagem que o mesmo representa: "Deixe a música de hoje. Basta ligar a música. Deixe a música de sua vida para dar a vida de volta à música!"
A terceira faixa "Giorgio By Moroder (Feat. Giorgio Moroder)"se trata de um discurso, algo não tão inovador no mundo na música. Para ser mais preciso, de um discurso biográfico de Giorgio Moroder, um produtor italiano que fez bastante sucesso no final da década de 70 com a Eletro Music, naquela época, a disco. A dupla fez uma mixagem de som impecável, principalmente nos intervalos do discurso, porém o que pode deixar a faixa estranha é o fato da mesma ter exatos nove minutos. Como eu disse no início, a ideia não é inovadora, mas no momento, ninguém pensava em ter uma música tão boa com um tempo tão longo e ainda assim, ser composta por um discurso falado sobre uma pessoa que é influência para o álbum.
A faixa seguinte "Within (Feat. Gonzales)" é a prova do quanto a música eletrônica pode ser "alternativa". Em apenas três minutos e meio, temos uma faixa composta por piano, bateria e alguns sintetizadores típicos da Daft Punk, na voz de Gonzales. Como em qualquer álbum, uma faixa lenta pode ser a música que se passa mais despercebida em comparação às outras do disco, mas como estamos falando do "Random Access Memories", um álbum eletrônico com um conteúdo tão diferenciado e conceitual,  escutar todas as músicas lentas que ele apresenta não é nenhum castigo. Afinal, assim como em "The Game Of Love", o que é dito na primeira música fica mais evidente: músicas com uma sonoridade mais calma, já que no final da década de 70, é obvio que não existia batidas mais complexas e agitadas como o Dubstep ou pesadas e carregadas como no Hardstyle. Encontrar este tipo de conteúdo em um disco eletrônico é mais que genial.


Em "Instant Crush (Feat. Julian Casablancas)", assim como em qualquer música do The Strokes, é perceptível a presença forte de guitarra e teclado em uma parceria feita com Julian Casablancas. Outra coisa que fica perceptível é a sonoridade que, aos poucos, começa ficar mais dançante, mas não no estilo para as pistas de dança. A combinação entre um "novo" eletrônico e o Rock Alternativo resultou em um perfeito ritmo que agrada qualquer fã das pistas de dança.


A partir da faixa "Lose Yourself To Dance (Feat. Pharrell Williams)" a Disco Music começa a ficar evidente. Não que temos aqui algo como ABBA ou Bee Gees, mas nesta faixa, o groove é misturado com o eletrônico apelativo que o Daft Punk está apresentando desde o início do álbum.


Escutar "Touch (Feat. Paul Williams)" me dá até arrepios e a introdução me lembra o clássico Synthpop do Kraftwerk no álbum "The Man Machine". Porém, nessa música, Paul Williams dá um toque de final da década de 80, quando o ritmo começou a ganhar mais presença da voz do cantor e ficar mais dançante ao longo da faixa. O piano e o saxofone são os quesitos que dão diferença, mas por um período, já que da metade da música começamos a ter a presença de uma batida mais lenta característica do Synthpop. "Touch”, um som épico de oito minutos em colaboração com o compositor Paul Williams, responsável por algumas pérolas dos Carpenters. A música é feita em camadas: começa com um texto teatral, vira um funk com trompetes, depois uma balada e, enfim, uma música de coral. A estranheza e a inconstância não incomodam porque as partes são excelentes sozinhas. Coladas, viram um experimento e tudo faz mais sentido levando em conta a letra existencialista.
O ápice do álbum sem nenhuma dúvida é "Get Lucky (Feat. Pharrell Williams and Nile Rodgers)". É difícil falar dessa faixa em meio aos haters,  ou críticos de meia tijela, que a consideram uma "Canção morta", esses estão acostumados a ouvir os Psys da vida.
Enfim, analisando a música sem considerar sua repercussão no mundo virtual, é possível perceber a sua sonoridade que mescla com maestria nostalgia e qualidade num loop de guitarra que serve de embalagem para a voz agradável de Pharrell.


"Beyond" lembra muito a veia cinematográfica que o Daft Punk trouxe com Tron. O início magistral e audiovisual cai no loop de um riff setentista com vocoder para conteúdo também existencialista. "Dream/Beyond Dream/Beyond Life/You will find you song" exprime a dificuldade de se criar a "canção perfeita", da necessidade de cavar, de ir fundo para encontrar a alma. E a dupla dá ênfase: "There's no such thing as competition/To find a way we lose control/Remember love's our only mission /This is the journey of the soul".
O mesmo acontece na décima faixa "Motherboard", que basea-se numa peça instrumental com a mensagem de ser algo puramente sintetizado que, através de notas no violão e violino, contém vida. Além disso, mostra que é possível deixar a Música Eletrônica mais humana e mais profunda, até certo ponto hippie.
"Fragments Of Time (Feat. Todd Edwards)" dá um tempo na proposta e mostra a leveza com uma mistura de jazz o som pop dos anos 1980.
Com um álbum todo conceitual, o diferencial da faixa seguinte "Doin'it Right (Feat. Panda Bear)" é a caracterízada pela diferença entre a nova e a antiga sonoridade. O título critica também o vazio dos projetos eletrônicos atuais e afirmam que todo mundo dançará do mesmo jeito (novamente me vem a cabeça "Gangnam Style"). A ida ao estúdio e contato analógico para construção de um álbum que ovaciona a produção de músicas com vida tem uma só finalidade: "If you lose your way tonight, that's how you know the magic's right".
E por fim, "Contact (Feat. DJ Falcon)" de início parece uma faixa como qualquer outra do disco, mas ela é uma "verdadeira "metamorfose eletrônica. O contato (como dá o nome ao título) com esse mundo novo desperta tantas novas sensações que são exatamente o que eu, como ouvinte, senti ao perceber que ouvia trompetes e piano em meio a uma estrutura típico do Daft Punk. A faixa desabrocha e retrai com os minutos, assim como a insegurança dos versos, mas a surpresa vem na segunda metade da música, quando um coral se mistura a violinos até uma abrupta mudança, como se a canção tivesse início pela segunda vez ou acordasse de um desejo muito profundo.
Sendo assim, para não me estender mais, posso dizer (depois de ouvir várias vezes o álbum) que Random Access Memories é um projeto muito ambicioso. Desde a primeira faixa já percebemos qual a real intenção da Daft Punk: mudar o cenário musical. A pequena letra da faixa que abre o disco é uma crítica contra isso. O mundo da música parece tão perfeito, que do mesmo modo é mais complexo do que imaginamos. O Random Access Memories também não é um álbum para ser entendido de uma hora para a outra. Não que ele apresente letras muito confusas ou seja cansativo como muitios afirmam por aí, ,as o álbum tem uma sonoridade diferente daquela que estamos acostumados, sendo inovador e, em muitos momentos, nostálgico.
A verdade é que as pessoas estão tão acostumadas com o modismo e, ao ouvir alguma coisa nova seja de qualquer banda ou cantor consagrado, não fazem nada além de criticar. A recepção do público para o retorno misterioso e repentino da dupla foi mais que exaltada. O Daft Punk quer com esse álbum mudar o atual cenário musical. Estamos falando de dois artistas visionários que sabem muito bem sobre um "futuro".


Os álbuns do Daft Punk se tornaram uma referência de como a indústria fonográfica deve caminhar e isso deu um título a eles de "professores de tendências." Os oito anos depois do último lançamento da dupla implicam um certo perfeccionismo diante da proposta que o mundo merece. Foi quase uma década de espera para ouvir as faixas que servirão de referência para as próximas gerações.
Quem mais se frustrou e entrou para o time de críticas negativas em cima de RAM foi quem esperava um álbum condizente com os outros em termo de estrutura. Quem se impressionou foi quem esperava um álbum condizente com a proposta. Desde o lançamento de "Get Lucky "já estava implícito que o eletrônico não teria espaço exclusivo como nos trabalhos anteriores. A proposta é, e sempre foi, inovação. Afirmo com todas as letras que RAM é uma obra muito a frente de seu tempo, que tem que ser analisada tomando a proposta como ponto inicial e criticando a partir disso.
O álbum todo se completa como uma narrativa só, em que as faixas vão dando suporte umas as outras com objetivo de passar uma mensagem em conjunto. Essa busca incessante pelo âmago, dando importância aos elementos orgânicos, traz uma sensação incrível de vida, causando aquela ideia leiga de sentir que a música está completa e faz parte da trilha sonora de sua vida há anos. Vindo de artistas que pensam milimetricamente em cada nota, os dois controlam como marionetes seus ouvintes, levando-os para quaisquer explosões sentimentais que eles quiserem. RAM nos conduz do sentimento à euforia, da emoção à tranquilidade.

Integrantes
Guy-Manuel de Homem-Christo
Thomas Bangalter

Participação em Random Access Memories
Nile Rodgers, Paul Williams, Giorgio Moroder, Pharrell Williams, Todd Edwards, DJ Falcon, Panda Bear e Julian Casablanca

Músicas
Side 1
"Give Life Back to Music"
"The Game of Love"
"Giorgio by Moroder" (part. Giorgio Moroder)

Side 2
"Within"
"Instant Crush" (part. Julian Casablancas)
"Lose Yourself to Dance" (part. Pharrell Williams)

Side 3
"Touch" (part. Paul Williams)
"Get Lucky" (part. Pharrell Williams)
"Beyond"

Side 4
"Motherboard"
"Fragments of Time" (part. Todd Edwards)
"Doin' It Right" (part. Panda Bear)
"Contact"

Fotos do álbum



Fotos: Diego Kloss

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