Épico 10 | 13 (2013) - Black Sabbath

Ano: 2013
Gravadora: Universal Music / Vertigo Records
Gênero: Heavy Metal 
Obs: o álbum não está a venda.

Fazer uma análise imparcial e puramente técnica acerca de “13”, não é uma tarefa fácil, até porque estamos falando do álbum mais esperado da história do Heavy Metal. O lançamento de "13" foi rodeado de especulações e opiniões diversas, assim como o magnífico "Random Access Memories" do Daft Punk, que falei em outro post. 
Desde que o estilo foi criado, no início dos anos 70 pelo próprio Black Sabbath, o álbum foi tão aguardado por dois motivos: o retorno de Ozzy e também por ser um álbum totalmente inédito, pois desde “Forbidden” (1995), a banda não lançava um material novo.
Por isso, no post Épico de hoje, vou falar exclusivamente de "13" e não vou fazer um histórico da banda, pois já fiz isso em outro post quando falei do clássico "Paranoid".
Em janeiro de 2012, dois meses após o anúncio do retorno da formação clássica do Black Sabbath – e da gravação do primeiro álbum com Ozzy Osbourne nos vocais desde Never Say Die, de 1978 – Tony Iommi revelou ao mundo sua batalha contra um linfoma, tipo raro de câncer que ataca o sistema imunológico. “Não é exatamente o que eu queria de presente de Natal”, brincou o compositor de alguns dos riffs mais importantes da história do rock. “Mas é bom que os caras estão vindo para cá para que a gente continue a trabalhar no álbum, pois as coisas estão indo muito bem no estúdio”. Iommi falava sobre "13", o 19º álbum de estúdio assinado pelo Black Sabbath, mas apenas o oitavo com Ozzy nos vocais.



Com a urgência imposta pelo câncer, Iommi decidiu não esperar a resolução dos entraves burocráticos que impediram a participação do baterista Bill Ward no disco e acatou a sugestão do produtor Rick Rubin, que convocou Brad Wilk (Rage Against The Machine) para criar e gravar a bateria do disco. Rubin não foi uma opção surpreendente para produzir "13", afinal o barbudo havia assumido a mesma posição em 2001, na primeira tentativa de reunir os quatro originais do Sabbath. O produtor é reconhecido por fazer ressurgir a carreira de grandes ícones fora de forma musicalmente, como Johnny Cash, com a espetacular série American Recordings, Metallica e ZZ Top, e geralmente consegue isso ao incentivar o artista a se inspirar no auge da própria carreira. Mas seu estilo ausente e relaxado, recentemente criticado por Corey Taylor do Slipknot, às vezes faz os artistas soarem comos covers deles mesmos, como ocorreu com Weezer em álbuns mais recentes produzidos por Rubin.
Mas com "13" (veja como vou feito a capa) acredito que história foi bem diferente, pois não pode e nem deve ser comparado aos discos da banda nos anos 70, apesar das muitas semelhanças (como veremos mais adiante na análise da canções que compõe o álbum). São tempos diferentes, com recursos diferentes e mentes diferentes por trás das composições. Se for a despedida dos ingleses, é uma despedida muito honrada e digna de seus serviços inigualáveis prestados ao Heavy Metal: seu legado.
Todas as 11 faixas apresentadas de "13" (incluídos as 3 bônus da versão deluxe) remetem ao glorioso passado da banda, trazendo os riffs magistrais do mestre Iommi, o baixo pesadão e marcante de Geezer (um dos pontos altos do álbum), e as linhas características de Ozzy, que apesar de não ser um cantor dos mais técnicos, possuí uma das vozes mais marcantes da história da música, mesmo sem a potencia vocal de outrora. O baterista Brad Wilk também não compromete, embora fique claro que não possui o mesmo talento do mestre Ward, não sendo de tanto destaque. Alias, qualquer baterista que os caras tivessem escolhido e que tivesse o mínimo de talento, conseguiria tocar as faixas, que não exigem um grau mais elevado de técnica (ainda mais hoje, com todas as tecnologias e facilidades possíveis em estúdio). A maioria das faixas de “13” seguem esse padrão básico e direto, com arranjos simples e melodias fáceis. Muitos querem comparar o álbum com “The Devil You Known”, do Heaven and Hell, que marca a despedida do saudoso mestre Dio, mas sem dúvida, esse é um disco superior, com músicas mais inspiradas, sendo mais cativante. 
Já na faixa de abertura, “End of the Beginning”, já percebemos claramente que a banda focou em produzir uma sonoridade totalmente voltada a seus primórdios, com climas sombrios e estruturas simples que remetem à clássica “Black Sabbath”. O andamento soturno da música a deixa extremamente sombria, com riffs poderosos de Iommi, como era de se esperar, um peso absurdo no baixo de Geezer e uma interpretação matadora de Ozzy. Por volta de 5:25 de música já temos um dos momentos mais emocionantes do disco, com um solo inacreditável de Iommi e uma interpretação melodiosa e marcante de Ozzy logo em seguida. É quase impossível não acompanhar Ozzy cantando "Alright. Okay. Till they set you free...".


A já conhecida “God is Dead?” também tem um clima carregado e arrastado, repleta de melancolia, com uma letra pessimista e remetendo também ao primeiro disco autointitulado da banda. Foi a primeira a ser divulgada do disco e é a música de trabalho de “13”. A faixa é uma sequência natural para a música anterior e novamente somos surpreendidos com o peso, especialmente do baixo de Geezer. Ozzy Osbourne faz uma excelente e melancólica interpretação, encaixando muito bem com o andamento da música e com a letra pessimista, que é uma das melhores já escritas pela banda. É fácil perceber como Ozzy continua sendo um intérprete incrível, apesar da engenharia de som ter alterado sua voz, sendo um dos principais do gênero, ao lado de caras como Bruce Dickinson, Ronnie James Dio e King Diamond.


Já em “Loner” as coisas começam a esquentar, em especial graças aos riffs magistrais de Iommi e Butler (um absurdo o peso do baixo nessa faixa), embora novamente remeta a outra canção clássica da banda, nesse caso “N.I.B.”.
A música um pouco mais rápida se encaixaria tranquilamente no disco “Master of Reality”, dando uma pequena quebra no disco com dois fantásticos solos de guitarra de Tony Iommi, que mostram toda a técnica de um dos maiores guitarristas de todos os tempos. O som do baixo de Butler não some e sua aparição no conjunto com Iommi torna esta música extremamente pegajosa. É uma faixa mais reta e menos elaborada que as anteriores, mas ainda assim é muito boa, mantendo o disco num nível muito alto.


Na sequência, o disco oscila novamente com “Zeitgeist”, que não é pesada como "God is Dead" e nem agitada como "Loner", mas é uma faixa extremamente densa e melancólica. Gosto muito da percurssão aplicada na música, com a inserção de toques básicos de bongo e chocalho.
Ao ouvir "Zeigeist' lembramos automaticamente de “Planet Caravan” do disco “Paranoid”. Ozzy faz uma boa interpretação e do meio para frente ela se torna mais uma balada do que uma faixa experimental, com um solo de blues interessante, funcionando como centro de reflexão no álbum.
O peso volta com tudo em “Age of Reason” e fica evidente a qualidade da gravação, deixando todos os instrumentos bem audíveis. Apesar de que muitos fãs esperarem uma gravação mais suja e saudosista, os músicos mostram um entrosamento poucas vezes visto, sem querer ficar aparecendo mais que o companheiro. A música dá uma reviravolta e fica ainda mais pesada na parte do solo você começa a se perguntar de onde vem tanta genialidade do mestre Iommi, que não soa repetitivo em nenhum momento, mesmo depois de mais de 40 anos de carreira.

Ozzy duela vocalmente com a bateria pulsante e as guitarras galácticas. É um groove estampido contínuo à medida que a música escala cada vez mais fundo para um ponto de psicose. Enquanto ela chicoteia um turbilhão melódico, também transporta para um lugar esmagado que bandas modernas como o Meshuggah também podem te levar. É justo dizer que é uma das mais pesadas do disco.
"Live Forever" é música em que Ozzy compartilha sua filosofia frustrada sobre a vida, com o verso, "I don't want to live forever, but I don't want to die", temos que admitir que o Príncipe das Trevas vai direto ao ponto. Entrada bem firme, puxada pela força das baquetas de Brad Wilk. O refrão é pegajoso, fazendo esta música ser perfeita para ser tocada em shows e cantada junto pela plateia. O solo de guitarra coroa essa música e se encaixa perfeitamente.
“Damaged Soul” possui abertura já rápida com cadências e mudanças bruscas de som, sem possível dividi-la em várias partes. Geezer Butler também está presente: o baixo domina uma parte central da música, não deixando o público cansado das guitarras e mostrando porque é um dos grandes músicos do metal. O solo é emocionante e faz o ouvinte voltar à década de 70. Fica difícil até falar sobre a música, pois parece que qualquer coisa que se diga nunca chega a sua grandeza e completude: talvez pode ser definidia como Soul Heavy Metal.
 "Dear Father" guarda os riffs mais devastadores e pungentes do estilo de "Iron Man", para um final encorpado e violento de sete minutos. Tem o peso tradicional, mas tem de certa forma, uma sonoridade moderna que pode decorrer da influência de seu novo baterista, Brad Wilk.
Esta é a faixa mais distinta do restante do álbum e mostra o quanto os músicos ainda são criativos e podem se reinventar, sem perder sua essência. Ao final da música temos praticamente uma ‘jam’ com Iommi, Butler e Wilk quebrando tudo.
Esta música tem bem o estilo Black Sabbath de ser. A letra forte domina toda a música e se impõe sobre o som dos instrumentos. O baixo e a guitarra costuram a música de maneira inteligente, fazendo desta uma das músicas mais firmes e completas do disco. Geezer Butler novamente é um ótimo destaque e as baquetas de Brad Wilk não se perdem na música. O corte seco no final se completa com o som da chuva, que remete a música “Black Sabbath” do álbum com o mesmo nome, lançado na década de 70. Assim, o Black Sabbath parece estar declarando o fechamento de um ciclo: o de sua própria existência, talvez.
A versão ‘Deluxe’ vem com três faixas bônus que poderiam e deveriam estar inclusas no set list normal do álbum, pois são do mesmo nível e em alguns casos até superiores às demais.
 “Methademic” é a mais rápida do disco e é muito empolgante, mostrando que os músicos ainda têm muito gás pra queimar. Os riffs de Iommi lembram bastante as épocas do “Heaven and Hell” e “Mob Rules”. 
“Peace of Mind” segue a mesma linha do restante do álbum com riffs incrivelmente pesados e novamente com uma aula de Geezer, tocando com um peso incrível, ouso dizer que é uma das melhores atuações do baixista pela banda. 
Fechando o disco, temos “Pariah”, que começa melancólica e com belas melodias, mas logo cresce e se torna uma das melhores faixas do disco. Convida a bater cabeça com riffs oras Hard, oras beirando o Thrash na linha do Metallica. Tem um dos mais emocionantes solos do álbum, encerrando-o com chave de ouro.
Por fim, quanto à produção do álbum, feita pelo polêmico Rick Rubin, fica claro que foi feita propositadamente para soar retro, fazendo jus à sonoridade proposta pela banda. 
Agora, falando da atuação de cada membro do Black Sabbath podemos concluir que:
Tony Iommi, como não podia ser diferente, nunca falha. Pode ter gravado um ou outro disco menos inspirado, mas sua capacidade de criar riffs marcantes é indiscutível. Em "13" não é diferente, Iommi despeja toneladas de riffs por todas as músicas. Seus solos também são emocionantes e nos deixam arrepiados música após música.
Geezer Butler é o destaque do disco, dando o sangue em cada nota tocada. O peso de seu baixo é impressionante, remetendo facilmente ao clássico álbum de estréia da banda. Não é um músico absurdamente técnico, mas compensa com um feeling acima da média. 
Ozzy Osbourne faz o melhor que pode dentro das limitações que a idade avançada lhe impõe. Empolga em muitos momentos, cantando ora de forma vigorosa, ora de forma melancólica, ora de forma melódica, mas em alguns momentos lhe falta um pouco de pegada. Mas o que realmente não agradou muito no vocal de Ozzy é a gravação quase robótica de sua voz em muitos momentos, que se assemelha muito aos seus últimos lançamentos solo. 
Brad Wilk, que substituiu Bill Ward na bateria, não faz mais que o papel de um mero coadjuvante, não compromete o trabalho e empolga em alguns momentos.

Considerações Finais
Sendo assim, fica claro que o "novo" Black Sabbath buscou em "13" presentear seus fãs, sem maiores pretensões (até porque todos os membros são músicos consagrados e milionários), e só por essa atitude e respeito, nessa altura de suas vidas, produzindo música de qualidade, já merecem nosso respeito. Não esperem por algo tão impactante ou que irá mudar os rumos da música pesada, mas apenas por boa música, feita pelos precursores do estilo.
Se há uma palavra capaz de descrever bem o que de mais importante se relacionou ao lançamento desse álbum, ela é "expectativa". A banda conseguiu preencher os requisitos estipulados pelos fãs (mesmo que inconscientemente) para que o álbum fosse aceito como mais uma importante obra em sua discografia. 




Osbourne disse na coletiva que ele vê "13" como uma continuação de "Sabbath Bloody Sabbath", o quinto álbum da banda, de 1973, que segundo muitos, foi o último grande álbum da banda. E enquanto "13" se encerra com um trovejar, o barulho da chuva caindo e um sino badalando, você não tem como não pensar que o Sabbath realmente está de volta.
"Ele foi certeiro ao nos levar de volta a nossas raízes nisso. Ele ateve-se ao básico", disse Osbourne na coletiva de imprensa da banda em Auckland, Nova Zelândia.
O baixista Geezer Butler concordou: "Foi como voltar àquela sensação original de se gravar ao vivo que tivemos nos três primeiros álbuns, e Rubin disse que éramos uma das poucas bandas que ainda podiam fazer isso ao vivo no estúdio. Então foi assim que fizemos."
Dessa forma podemos nos perguntar se “Este é o fim do começo, ou o começo do fim?” Essa pergunta abre a faixa inicial (“End Of The Beggining”) de 13, o primeiro álbum do Sabbath com Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Tony Iommi em 35 anos. Apesar da idade dos integrantes e seus problemas de saúde, esperamos que seja o fim do começo para o Black Sabbath.

Integrantes
Ozzy Osbourne – Vocal
Tony Iommi – Guitarra
Geezer Butler – Baixo
Brad Wilk – Bateria

Músicas
Side A
"End of the Beginning"
"God is Dead?"

Side B
"Loner"
"Zeitgeist"

Side C
"Age of Reason"
"Live Forever"

Side D
"Damaged Soul"
"Dear Father"

Fotos do vinil




Fotos: Diego Kloss

Comentários

  1. Muito bom o post. Apesar do esforço do Sabbath não chegou perto dos verdadeiros clássicos da banda

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